segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Seguro de vida no ESO, pra quê?Nem queira saber...

Depois de certo dia fatidico, resolvi não rir mais de assuntos sérios.
Reunião para o ESO (Estágio Supervisionado Obrigatório) e a coordenadora de estágio começa a falar sobre o ESO, nossos direitos e deveres, seguro de vida...


- Como assim professora?Seguro de vida?Pra que isso?
- Bem, para que vocês fiquem tranquilos aonde estiverem. Muitos de vocês estarão bem longe de casa.
- Professora é muito difícil alguém se acidentar no ESO, francamente...
- Não é nada difícil, somos seres humanos frágeis e estamos sujeitos a isso a qualquer momento!Teve um caso em que a menina morreu.
- kkkkkkkkkkkkkk. Sei não,viu?A pessoa tem tanto tempo e momento pra se acidentar ou morrer e vai acontecer justamente no período do  ESO...


Saí da reunião sem acreditar muito na estória da professora.


O primeiro estágio que fiz foi no DNOCS e numa Fazenda que tinha criatório de tilápias em Pentecoste. Foi bem proveitoso, ajudei até no arraçoamento dos peixes!





Hora de matar a fome das tilapinhas! 


Pois é..subia e descia do barquinho, uma vez eu me desequilibrei e quase caí e derrubei vários quilos de ração e 2 funcionários da Fazenda dentro do açude; mas não seria daquela vez.

Voltei pra Fortaleza e iria estagiar em um grande Supermercado, para continuar o meu estudo.

Primeiro dia de estágio no Supermercado e fui acompanhar o recebimento dos peixes na doca. As tilápias chegavam vivas e subi no caminhão pra ver se a oxigenação estava adequada. 








Em uma das idas e vindas eu tive o azar de pisar na parte da madeira do piso do caminhão que estava podre. A minha perna afundou e tentava tirá-la e não conseguia. Até que eles quebraram  a madeira e a perna pode sair. Eu estava toda de branco. E o sangue escorria pela perna, mas eu não sentia dor, nem tampouco encontrava o ferimento nela. Levaram-me na enfermaria e tiveram que cortar a minha calça (única, por sinal!detesto roupa branca!) pra tentar achar o causador daquele absurdo de sangue...nossa...nunca vou esquecer...vi o buraco na perna, músculo cortado e eu via a minha tíbia, cabia meu celular dentro da cratera formada...A partir daí comecei a sentir dor e a me desesperar: meu Deus eu preciso me formar!!Na mesma hora liguei pra Ticiana pois meus pais estavam no sítio e sabia que ela iria a meu socorro, sem dúvida!

Ticiana me pegou e fomos a um hospital com especialista em Traumatologia mas acho que por ser um sábado ele quisesse sair mais cedo e curtir uma praia porque nos assustou dizendo que eu não aguentaria a sutura e teria que fazer uma anestesia epidural...pois é...saímos de lá à francesa; porque, né?

Até esse momento nada de acionarmos o seguro porque a professora havia dito que só seriam necessários os comprovantes dos procedimentos para o tal.
Resolvemos ir ao Hospital carro chefe de Traumatologia do Ceará, o Instituto Dr. José Frota.
Fomos mal recebidas, mas alguém renomado teria que cuidar da minha perna, já que eu sentia muita dor e essa era a opção mais próxima.

O médico disse que aquilo era uma coisa muito simples pra ser atendido ali (como assim simples?eu sentia muita dor, ora mais!não era a perna dele!) e que eu teria que procurar outro lugar. Ticiana conversou com ele e ele resolveu me atender.

Foram alguns minutos de puro sofrimento. Ele lavou a ferida com bastante soro, eu ia no céu, segurava na ponta dos dedos de São Pedro e voltava. Depois, não contente começou a anestesiar  no local da cratera que havia se formado na minha perna...já dessa vez eu ia ao céu e puxava no braço de São Pedro e lhe aplicava beliscões. Chorei bastante, a dor era horrenda, mas depois de alguns minutinhos parecia que eu não tinha mais esse músculo e iniciou-se a sutura...

Ao sair dali meu irmão me esperava pra me levar pra casa. Agradeci ao meu anjo Ticiana e fui embora. Estava louca pra chegar em casa e tomar um banho e ... vi minha casa lá longe...

- Aonde vamos?
- Almoçar.
- Eu não preciso comer, preciso dormir!
- Mas saco vazio não se segura em pé, vamos almoçar algo bem gostoso e te deixo em casa.
- ...

Pois é...já não bastasse essa loucura toda ele me levara à praia, lotada, dia de sábado, com banda de pagode na barraca e tudo e ainda ficava me pedindo pra ser simpática. Eu toda de branco, de calça, suja de sangue e ainda tinha que rir!Acho que a fome ali tinha se revoltado com minha situação e havia fugido. Comi pouco e tive que aguentar a vontade dele querer voltar pra casa, enfim.

Ao chegar em casa só troquei de roupa e deitei-me, forças eu não tinha mais!


Fiquei de molho em casa por 40 dias até me recuperar.Antes disso eu colocava o pé no chão e toda a minha perna inchava. Esse recesso forçado não me atrapalhou na monografia porque ela foi adiada por alguns meses devido a greve da UECE e essa foi a minha sorte!No mesmo dia recebi inúmeras ligações dos amigos preocupados. Foi um telefone sem fio.

- Você caiu do caminhão?
- Você quebrou a perna?
- etc...

Recebi alguns apelidos e o que mais marcou foi o "amiga, manca!"

Depois desse dia tirei duas lições:

1. Nunca zombar de algo sério!
2. Se estou no chão , permaneço. Pra que subir em algo mais alto?

O mais engraçado foi voltar ao estágio e ver que eu havia me tornado popular por ter quebrado  o jejum de  6 meses sem acidentes de trabalho e todos queriam saber quem eu era. 



    



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"Luto"

Assim que acordei hoje meu pai me avisou: Roberta, o filho do Jota foi assassinado.
Cuma?
Pois é. Alisson deveria ter uns 23 anos no máximo.
Filho de um vizinho da frente, cheio de problemas na vida; principalmente com o pai dele.
Quando ele apareceu aqui na rua dizia vir da casa da avó que havia falecido. Morava na loja do pai. O pai dele passava o dia na loja e a noite ia pra casa. E ele ficava por aqui. Às vezes eu o via de longe, meu triste.
Certa vez ele me chamou quando eu estava chegando em casa e conversamos bastante. Ele fazia as refeições num quiosque aqui perto. E mamãe gostava de dar lanches a ele.
Só que com o tempo ele começou a ficar diferente. Intimidade é triste. Me esperava na esquina e pedia dinheiro emprestado pra comer, mas nunca me pagou. Dei algumas vezes e depois descobri pelo pai dele que ele era um viciado em drogas. E o dinheiro deveria ser pra manter seu vício. Depois de saber disso sempre negava dar dinheiro. Queria pagar o lanche, mas ele dizia que não queria. De tanto torrar a paciência fui pegando abuso do menino e o evitava.
Ele e o pai sempre brigavam. No meio da rua mesmo.Todo mundo vendo.
Certa vez o pai dele o expulsou da loja e ele ficava rondando aqui. Pedia dinheiro, pedia comida e ia vivendo pela rua mesmo, a vizinhança o ajudava; mas o pai dele não. Não pagava mais sua conta no quiosque. E assim se passaram os dias, meses e anos.
Soube que ele apareceu com alguns caras de má índole, roubaram o quiosque e ainda ameaçaram de morte o garçon que muitas vezes o ajudou.
O garçon foi-se embora. E ele depois disso sumiu também.
As últimas notícias é que era assaltante. Vivia roubando o povo numa rua aqui perto. Eu nunca passei por lá.
Hoje soubemos de sua morte. Encontraram-no morto dentro do quartinho que ele estava morando no bairro vizinho. Isso foi matéria dos programas policiais que meus pais adoram assistir.
Não vi o programa mas meus pais me contaram.
A senhora contou que ele tentava sair das drogas, pediu que ela o ajudasse. Ela ainda não tinha conseguido um tratamento pra ele; mas estava na luta. Ela havia cedido o quartinho vizinho a casa dela pra ele e que ele era um rapaz bom. Nunca havia desrespeitado ninguém  da casa dela, mas na madrugada alguém o matou.
Foram 8 tiros.
Ninguém sabe de nada. Ele estava até tentando ganhar uns trocados aqui e ali, mas era pra comprar o crack. Não conseguia se libertar.
Mas o pior de tudo foi saber que o pai não foi lá vê-lo. O IML levou o corpo e o pai não quis nem saber, talvez tenha sido enterrado como indigente.
Hoje senti muita pena. Ele era jovem, cheio de vida e o vi desmoronar.
Espero que um dia o pai dele aprenda que não é só colocar filhos no mundo; mas dar a eles estrutura e amor incondicional.
Estou chocada com tudo isso até agora. E com certeza não vou conseguir dormir.


Notícia sobre ele no blog da Jangadeiro: http://jangadeiroonline.com.br/policia/usuario-de-drogas-e-assassinado-com-oito-tiros-dentro-de-casa-113930/