segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Orgulho de ser Veterinário

         Quando pergunto a alguns amigos veterinários sobre o que eles queriam ser desde criancinha, eles dizem: ''VETERINÁRIO''. Eu sou diferente, eu queria ser Pediatra, mas com a vinda da minha sobrinha, que destruía o meu quarto eu tratei logo de mudar de especialização, queria ser Oncologista.

 Tentei vestibular para Medicina inúmeras vezes e nada: UFC,UFMA,UFPA,UFPE,UESPI,UFPI,UFRN...
  Só que desde que tentei vestibular pela primeira vez havia passado em Veterinária, mas achava que não queria. Cursei 2 disciplinas e executava o trancamento nos semestres subseqüentes. Depois de muito sofrer em cursinhos e brigas com a minha auto-estima sempre que levava bomba no vestibular, resolvi voltar pra Veterinária.

       Retornei e tratei logo de arranjar um estágio na clínica da faculdade, queria logo ver como teria sido na Medicina. Muita adrenalina, querendo ajudar a tudo e a todos; amenizar a dor dos pacientes, queria ser a melhor estagiária! Só que foi meio desastroso porque sempre que vinha uma emergência, tipo animal atropelado ou alguma mazela no mesmo prisma eu chorava mais que os donos dos bichos e uma vez passei mal na frente do proprietário, foi ridículo. Depois de algumas tentativas decidi mudar de área, a Veterinária nos dá um leque de opções e não me desesperei; mas foi bom porque percebi que Medicina não era minha escolha correta, ainda bem que não havia passado.

       Interessei-me por um estágio em um laboratório de Microbiologia de Alimentos, mas nunca dera certo; atualmente, entendo o porquê. Tive que mudar meu projeto de Especialização porque odiei trabalhar com as bactérias do mal.

      Fui para o Laboratório de Reprodução de Carnívoros aonde conheci pessoas inesquecíveis, apesar de gostar de lá, ainda não era o que queria e no último semestre descobri a minha paixão por inspeção e vigilância sanitária de alimentos.

       Durante o estágio no LRC trabalhei com comportamento animal e ajudei nas cirurgias, apesar de ter medo e sempre achar que iria com minha força deslocar todos os órgãos dos animais.
 Gabriel sempre falava: - Vou voltar pro Rio de Janeiro e você será "expert" em cirurgias, criatura de Deus!Perdão amigo, mas não. Não mesmo!

     Pois é, isso tudo pra começar a história de hoje. As palavras seguintes serão do Dr. Jr Jr., porque nesse foco narrativo eu simplesmente estava fora de órbita...

     "Quem pensa que abandono é uma palavra aplicada ao meio humano, engana-se. Animais são vítimas desse contexto todos os dias.

       Então é aí que começa a história de Branquinha, cadela SRD (sem raça definida) que em 4 dias tentando parir seus  filhotes,    teve a sorte de passar das mãos de um dono desleixado para um atencioso.

    Mas como tudo é uma linha tênue, o novo dono não tinha como pagar a cirurgia.

    Lá vão eles em busca de uma solução e só escutam nas clínicas o triste e amargo valor da  mesma: 350,00R$.

   Acabam encontrando a Unidade Hospitalar Veterinária da UECE e diante da lotação com pacientes na fila de espera, Branquinha é repassada para outro dia. Uma possibilidade remota!

   A professora do Laboratório de Virologia se comove com a situação e tenta encontrar uma saída.  Surgindo assim, o  Laboratório de Reprodução de Carnívoros, mas a solução novamente se perde pois não tinha nenhuma das pessoas da cirurgia lá. Então, eu, Jr. Jr. mestrando sem noção do Ananas comosus, vulgo ABACAXI, me disponho a fazer junto com a minha  companheira de aventuras também sem noção, pois cirurgia não é da nossa rotina. Apesar de sermos veterinários e termos passado pela cadeira de cirurgia.

    Arrumamos a sala, anestesiamos a cadela e quando adentramos a cavidade abdominal observamos um fato estranho, mas ninguém comentava, o que seria hein? O silêncio se fez na sala... Além do fato do filhote estar na cérvix e na parte inicial do corpo do útero, vulgo: Tá atravessado mesmo o bichinho. Já estava morto e nada podemos fazer e o momento fatídico com direito a jargões que ficarão na história e como no Brasil tudo vira letra de música, não se espantem se esse virar.

        -  Dra. Dadá vamos fazer a parte do corpo uterino, quer fazer?
        -  Claro!

       E começaram as suturas. Fico pensando como seria descrever uma sutura, acho que seria como num jogo de futebol. A agulha passa pelo vaso, penetra, dá uma volta e o contorna, faz um duplo carpado seguido de duas piruetas, cada uma em sentido contrário e é suturaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaado o corpo.

      Ufa!  Sim. É importante lembrar que não existiam apenas esses 3 personagens, lá estavam uma bióloga que foi inocentemente ajudar e num passe de mágica ela irá desaparecerar num dado momento da história.  E também uma outra Dra. chegada à vigilância sanitária de alimentos, a mentora da organização da sala cirúrgica e do correr da carruagem.

       Mas continuando...suturado o útero a Dra. Dadá expressa-se:
        - Pronto, pode cortar???
       Pessoal, são colocadas pinças presas aos fios de sutura assim como o corpo do útero também  é pinçado...
       - Pode, vai lá...

     Um minuto de silêncio e corta-se o útero e os nós se desfazem e apenas uma humilde pinça fica e um som ecoa e toma conta do ambiente cirúrgico:
 “VAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALHA ME DEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEUS!!!”

           Era como no massacre da serra elétrica, sem a serra é claro, a hemorragia toma conta...
       O sangue jorrava, fazendo uma analogia, como os aspersores da UECE num começo de dia e    penso : PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPQP


   Sangue do vaso sanguíneo espirrando na sala, um horror!

        E começa a luta contra o tempo e a cadela retornando , como pude esquecer, a coitada quase retornou a si, mas foi tomada pelos repiques anestésicos e eu pinço ali e acolá, e Dra Dadá olha várias vezes para a Dra. em alimentos  com uma cara de fome, misturada com um assalto acompanhado de uma surra, em um dia de domingo. E a Dra. Renna Roberts faz aquela cara de paisagem, como se tivesse fugido dali, fora para um universo paralelo, o sangue a respingar e pintar a sala parece não mais afetá-la.  Acooooooooorda mulher!! Volta para esse mundo!!E do nada se escuta: - Pronto, conseguimos. Ufa!

      A vontade que deu em todos na hora talvez fosse apenas uma: Pessoal, juntemos as mãos e oremos pelas pinças que estão a nos ajudar!! OOhhh glória!!!

      Estava cansado e ainda tenso da situação, com o ombro acabado, olhei para a Dra. Dadá e    perguntei se ela  poderia continuar, mas quem consegue depois de tudo isso?

       Eis que chega uma anja e pergunta se pode ajudar e continua a cirurgia, era a Dra TICIanja.
    Eu e Dra. TICIanja percebemos o quão o trabalho seria árduo, pois eram muitos vasos  sanguíneos a serem suturados.

      Quase conjugamos o verbo suturar em todos os tempos verbais. Era muita sutura. Acabamos com o estoque de fios cirúrgicos do laboratório. Parece engraçado, mas não é; pois a cirurgia durou 3 horas e uns quebrados... E depois de inúmeras suturas de vasos, conseguimos chegar aos ovários e a Dra TICIanja, de forma graciosa terminara a cirurgia.


   Desculpem-me, mas a imagem do sangue jorrando me causou falência momentânea dos neurônios terminada a cirurgia, fechamos a incisão, 3 planos cirúrgicos como manda o figurino e a cadela Branquinha passa pelo primeiro sufoco e esperamos que seja o único em sua vida."


        Branquinha ao final da cirurgia

      


     Branquinha se recuperando durante a madrugada na casa do Dr. Jr. Jr.

    Pois é, em vários momentos dessa cirurgia eu pensei: CORRE, CHAMA O VETERINÁRIO!!!Apesar de saber que na sala haviam 3 naquele momento de maior desespero!Há quem não nos valorize ainda. Depois desse dia pode ter certeza de que não vou mais achar tão caro e dispensáveis certos procedimentos. O proprietário deixa o seu animal para uma cirurgia e o recebe saltitante e vivo. Nem imagina o quão possa complicar e os cirurgiões estão ali fazendo até o impossível, recebendo quiçá ajuda divina para salvar a vida desses nossos tão amados bichanos.








7 comentários:

  1. Caramba, ainda bem que deu tudo certo com a Branquinha,. Eu ví a correria desse dia, e detalhe, ví tudo como um flash novamente a medida que ía lendo esse post. Mas com toda sinceridade, ainda bem que tinha a Dr. Dolittle pra mecher os pauzinhos e preparar o cenário pra que tudo terminasse bem!! ;)))))

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  2. Henna adoreiiiiii o texto, muito bem escrito e muito engraçado, deu para imaginar perfeitamente a cena, no final fica o justo reconhecimento do trabalho dos cirurgiões. Sempre que eu precisar dos seus serviços veterinarios será para me indicar um local onde possa comprar uma bela de uma picanha, hehehehehe.

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  3. bom, qd eu entendi sobre o que era o post eu não li a maior parte só que a bichinha se recuperou...=~~~~

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  4. henninha nao sabia do seu dom de escritora kkkkkk acho que além de inspeção vc devia tb seguir carreira como escritora kkkkkkkkkkkkkkk
    nao imagino NUNCAAAAAAA vc faznedo uma cirurgiaaaa! mas que bom que ah ticyanja apareceu para ajudar e que vcs foram fortes para iniciarrrrrr!!! quem mais agradece é a branquinha!!!parabenssssss para vcs meninas!
    bjokassssss

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  5. Hahahahhahahaha...shooow!!!! Chama o Veterinário....hahahahaha.....Só poderia ter acontecido contigo, né?! Beeijooo!

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  6. kkkkkkkkkkkk, que diabo foi isso?! hahahahaha

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  7. Rapaz apesar da quase trágica história, mas graças a Deus e aos vets presentes, com final feliz, o texto ta muito bem escrito e bem real mesmo! Henninha vou falar de novo, vc é uma excelente escritoraaa, eu lendo o texto revivi todo o momento, apesar de não querer.... hehehehhe....! Uma história assim só pode acontecer uma vez com a mesma pessoa, acho que coração algum resiste a mais!
    Beijãoooooooo

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